A gente se esquece de como escrever. Mas não se esquece, de fato, do que nos move a escrever, e hoje, o que me move é uma respiração ofegante. A ausência fez cansar. Uma sensibilidade que me fez sentir calor imenso com o suave sol da manhã. Por tal sensibilidade me dei conta num tal momento, de estar irritada por bichos-de-luz, aqueles besouros que se sentem muito a vontade fazendo barulhos com as asas e com sua casca que bate no teto. Matei várias dezenas sem qualquer piedade. Até que em cima da pia avistei dois dos besouros juntos, um em cima do outro, eles acasalavam. Não consegui esmagá-los. Mesmo com todo meu asco pela espécie, eu quis permitir que outro exemplar da mesma pudesse nascer e, ridícula, me senti viva dum tipo de solidariedade. Duma piedade mesquinha como é mesquinho o egoísmo do qual seria tomada (e do qual provavelmente não me daria conta) se os tivesse matado. Então não matei os bichos, mas saí correndo de onde eles estavam. Seguiu o dia de toda uma mesquinharia. Do qual se espera o próximo instante, que comportará a mesma respiração ofegante. Como o instante passado, o ontem, e o amanhã e o depois. E ainda o depois.