quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Vai querer?

Chega mais perto...
Não sei direito o que é que foi
Eu só sei que hoje você me inspirou
O cheiro impregnou

Me aperta aqui
Vestido nesse moletom
Assim não é que o frio passa
É só que eu esqueço

Eu vou fazer um chá
Não pode muito ser aquele
Já está tarde e ele não me deixa dormir
Vai querer, amor?

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Pré-disposição para a inundação

Perdi as botas no caminho pra casa.

só me dei conta quando precisei passar pelo rio que a chuva fez no asfalto. Eu andava com elas amarradas pelo cadarço na alça da mochila. Avistei ali um rio de lama correndo pelo piche e fazia esforço para enxergar algum branco de meio-fio pra pisar. Na ausência das botas trabalhei em aceitar o fato de que a água que lavou meses de ruas dessa cidade seca viria a encharcar meus sapatos. Esses meus sapatos pisaram muito já... de repente, contente, pensei que sim! eu juntaria as imundices dos meus caminhos àquela água que, em vinte minutos depois da última gota de chuva, iria decantar pra alguma parte do cerrado, porque a cidade ia tratar de hidratar-se sem desperdício. De súbito afundei o pé direito, como se a rapidez me desse algum tempo de, se quiser, desafundá-lo. A percepção não precisou ser tão aguçada pra entender que só restava afundar o outro pé. O rio de chuva que caía do alto me inundou pelos pés.

De caminhos de asfalto
das esquinas que Brasília não tem,



fiz minhas botas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

quase...

Tal qual Zsozé, não entendo minha própria língua. Sem propriedade nenhuma divago em palavras estranhas...

não tenho certezas...



liberdade,
aí estou chegando quase.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Da beira

Pouco sargaço pra muito mar, e contra o vento os cabelos embaraçam, nós de tão difícil desate, mãos de tão difícil desentrelace. Espuma, uma espuma branca bóia no céu em tantos pedaços que o vento não consegue dissipar, mas ó paí, mesmo com tanto filtro não fallta luz, e vem é de todos os cantos, pele negra, olhos brancos, vem de lá, de todos os santos, me empurra pelas costas me acelerando o passo. Corre, corre, corre, vamos fazer vento amor, circular essa energia tão concentrada nessa areia, circular essas ladeiras, que inclinam feito balança com o peso das nossas besteiras, fragmentadas em paralelepípedos espalhados por aí, - vem por aqui, que aí tem perigo, - mas é perigo pequeno... e as ondas batendo, batendo... pequenas e companheiras me carregam pela beira, e beirando os imprevistos eu sigo a vida inteira...

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O peso encantado

O barulho do silêncio martela em minha cabeça que não pára um segundo. Parece que minhas pernas finalmente entenderam qual o preço a pagar quando se supera tudo para aguentar um peso tão maior do que o peso que até mesmo pernas fortes suportariam. O que parece é que o peso que você tirou das costas veio parar nas minhas pernas. Este peso, agora depositado nelas, me obriga a caminhar tão devagar, tão devagar que, pela ânsia me obrigo a parar... Carregar tudo isso em meio a esse silêncio ensurdecedor me faz aflita e barulhada.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

El viento anunciando la aurora

Recostada en el coche cerré los ojos y me puse a soñar. Pronto ya no me acuerdo de nada, solo de la mano que poco a poco se acercava a mi pelo. Hago confusión, tengo ganas de sonreir, ganas de llorar, ganas de lograr a ser solo eso: un pelo que se deja llevar por su mano en movimientos que no conozco. Quizás no sea sueño, sino una señal para que yo no abriera los ojos y me abriera adentro. Pues si, me abri, como quizo aquella mano. A veces las ganas de abrirme los ojos casi me despertaba, y asi, como que inesperadamente, un viento caliente en mi mejilla me dijo:  Aquiétate! Así me encuentro: como si el viento calientito de su boca estuviera siempre a soplar mis mejillas. Cuando el viento se fue, la misma mano me regaló a unas gafas de sol, oscuras, para que yo siempre tuviera los ojos abiertos adentro.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Madeira e couro

A retina dilata, o olho conduz, a mente viaja [   ]
















Quando te encontro.

sábado, 15 de março de 2014

Despertar é ainda mais inevitável quando não se quer dormir

Dormia tranquila, mas acordá-la era irresistível, ainda mais porque, ao que parecia, não fazia o menor esforço para manter-se sequer de olhos fechados, mas fazia, ela fazia esforço. A insistência dele era tamanha que ela finalmente abriu os olhos, no entanto suas respostas eram só monossilábicas , mas não precisou muito esforço para que logo fossem frases. Quando enfim ela desistiu de fingir sono falava montes, ele satisfeito sorriu dizendo: "vou dormir".

quarta-feira, 5 de março de 2014

Cinzas de quarta-feira

Nem meio cheio nem meio vazio o copo está, o copo está meio. Menos que hoje era outro e mais que hoje era carnaval, e no meio dos sete dias a quarta feira, a quarta, bem no meio. Acorda, acorda amor! eu tive um pesadelo agora, e acordei bem no meio. Nesse posicionamento não tenho bem o que dizer, ainda bocejo e me estico na expectativa morna dessa metade que inaugura o fim.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Curvas em S


Captar o instante é entender que ele vai passar. E se todo momento está de passagem, enquanto passo deixo o meu rastro, e do que mais vale o passo se não me tirar do lugar? Caço caminhos e instantes pra captar.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Real e de viés


Quase tudo o que é triste me parece bonito. Não é beleza dessa que a gente fala todo o tempo, é boniteza de profundeza. Do profundo feio, o bonito, do profundo triste, o alegre.