Hoje senti uma irresistível vontade de fumar. Apanhei da
minha gaveta uma carteira de Free que estava pela metade e que era propriedade
de uma personagem sem nome que eu fui recentemente. Fui pra varanda, eu jamais
suportaria o cheiro de cigarro impregnado no meu quarto. Sem motivos pra ter um
isqueiro, só tinha um fósforo, e ventava, arrisquei. Eu não senti a primeira
tragada, como se estivesse sugando ar puro, treco insosso... num dado momento
pareceu fazer muito sentido que fumar fosse coisa de solidão e, enfim, me
assumi só. Como se tudo o que a coisa é deixasse num instante de ter gosto de fumaça
densa e a pureza me descesse insossa, ela então me desabitava, impregnando-se
ao contrário em meus dedos, em meus dentes, em minha língua, em meu cabelo, em
minha pele, em minha roupa, em meu quarto...