quarta-feira, 29 de março de 2017

O amor não é cego, não
é míope
que vê
e escolhe querer
Como me lembrar
que serei eu a enxergar
as estrias em teus seios nus
abafadas pelas roupas
e pela pouca luz
serei eu a vê-las respirar
E as manchas em tuas costas
que no fundo gostas
quando nelas
enxergo
constelações
calos
pêlos
cicatrizes
apelos
ossos
prantos
a flacidez
e os cantos
só no cerne
de nossa cama
pode-se ver as olheiras
que você esconde
e que pela manhã
mostram-se livres
da máscara facial
como a ânima
e o que ninguém mais vê
é exatamente o que se é
você de verdade
não tem roupa
nem maquiagem
você de verdade
eu vejo
todas as manhãs
com as lentes
e manhas
embaçadas
pela sua respiração
[inspirada em 'miopia' do Lucas Gemelli]

Nenhum comentário: