segunda-feira, 18 de julho de 2011

Antes da saída, Tio Abelardo tinha cabelos crespos e volumosos, vó Heloísa, cabelos pretinhos num coque baixo, e sua mãe usava os mesmos cabelos pretos, soltos num corte reto que a alongava. O tempo passou depressa para ele. Aos poucos o tamanho das pessoas deixava de ser parâmetro para medir o tempo que passava. Eu observava como era diferente para ele. Ele adorava quando passava anos sem encontrar aquelas pessoas e quando finalmente as via tinham outros cabelos, outras estaturas. No entanto, ao longo dos anos, acompanhara a mudança ininterrupta das mesmas pessoas, confirmando nelas a falta de aproveitamento e prazer em tudo que era prazer para ele. Ernesto passava longo tempo frente ao espelho depois que lhe cortavam os cabelos, balançava-os pra ver a diferença de seu movimento. Quando voltava de uma tarde passada com a mãe na qual ganhara uma camiseta azul, sem estampa, como gostava, queria logo sair denovo pra poder usá-la. A camisa durava anos... assim como seu corte de cabelo. Era deste modo que a estatura já não era parâmetro. Ernesto usava como modelo o seu próprio espelho, é claro. E no espelho via as mesmas roupas, o mesmo cabelo, o tempo então não passava como para toda aquela gente. Foi nesse final de semana na casa dos tios em que Ernesto sismou com uma camiseta azul-clara. A mãe explicou-lhe que há pouco lhe dera aquela camisa azul e que agora devia esperar um pouco até que ela pudesse lhe dar outra. Ernesto insistiu e a tia lhe deu a camisa. As camisetas iam mudando de cor no desejo de Ernesto. Já estava na hora de voltar. Vestiu sua primeira camiseta azul e pegaram o rumo de casa. Encontraram tio Abelardo com seu enorme cabelo crespo na porta a recepcioná-los, vó Heloísa com seus cabelos pretos amarrados num coque baixo, regava as plantas dos xaxins. Depois que o tamanho das pessoas deixava de ser medida de tempo agora Ernesto voltava a medi-lo através dos cabelos e das camisetas. Não gostava de ver o tempo passar e dizia para si que era por isso que não cortava os cabelos e trocava de camisetas...

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