terça-feira, 24 de novembro de 2015

Qual o direcionamento?

Sugestão prévia: Ler e ver escutando isso https://www.youtube.com/watch?time_continue=2&v=4-liyr-Xq3E
Tenta se ver em mim...
já se viu em mim
ainda que não tentasse 
se veria em mim

que sou um paraíso de pedras
onde não há senão pedras
e há água das entranhas
água salgada de pedras

que de límpida nada tem
e do espaço onde descanço
caberia teu pé
se quisesse se levantar

Refletir teu rosto é então
uma grande busca dentro da busca
se teu corpo transparece
e já não sei se o que vejo
está dentro ou através

me põe olhos fixos
e igual já não sei
se te estou dentro ou através
e fora do que te alcanço

não há senão pedras.


Foto: Isabella Pina
Intervenção digital: Betu Souza


domingo, 22 de novembro de 2015

Escrita automática das sensações de uma intervenção digital

Olhando a linha do mundo logo à frente de que lado eu estaria? Quem me olha?

A grande estrutura instável por calmos mares. Que o mar não mexe, e ela ainda assim balança. Que não sustenta-se sozinha e, sem velas, inventa um motivo para manter-se no horizonte. Se ele abrir a boca vai tudo água abaixo. Adentrará a língua rosa do outro lado da linha do mundo. Puseram um fim no infinito. Isso não é uma metáfora. Eu sou a calmaria do mar sem ondas que de onde está não é se não a calmaria do mar. 


Foto: Isabella Pina
Intervenção digital: Betu Souza


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Não sei, por isso vou

Eu, na imensidão azul posso sentir o que eu quiser. Antes poderia me identificar tanto com esse mar porque minhas lágrimas eram salgadas. Quero acreditar no controle do que sinto e me coloco em tal posição até que dos olhos escorre uma lágrima até a boca... insossa. Com o quê me identificarei? Já não sinto gosto de mar. Sequer há ondas e eu iria com qualquer uma.

- Pra onde você vai?
- Eu não sei.

- Me leva. É pra lá que eu quero ir.



Foto: Paulo Henrique Vieira
Animação: Betu Souza

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Chamei o vento pra dançar
Tipo dança de salão
mas o salão era a rua

Ele quis guiar
e de repente
eu já não dançava como queria

vento sacana
levanta meu vestido
despenteia meus cabelos,

e já aceita um outro convite.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Você não poderia ver. Não de tão longe... A cidade. Está amarela, muito mais amarela que meu sorriso desses dias. No caminho pra casa senti tanta falta de um barulho que me calasse, mas roubaram meu som, tá tudo tão quieto e não paro de me ouvir. Por que nunca tiro essas fotos da parede? Elas não sabem mais nada de mim. Vou deixar aberta a porta da varanda, talvez eu sinta frio, qualquer outra coisa.

quarta-feira, 4 de março de 2015

E que o rio leve

Esse seu cheiro impregnado nos meus cabelos
Só vai embora com água de rio
É que eles passaram por tantos caminhos
Que jamais aceitariam parar no ralo do banheiro
Entre as costas, as bocas e as coxas
Ficaram fios de memória em pêlo.