Quando entrar Novembro o céu me
presenteará com um toró de lágrimas acompanhado de gritos graves de alegria.
Dormirei embalada pela música celeste que tocará meu telhado e os telhados
alheios. Trocarei o lado em que durmo para ficar mais perto da persiana, por
onde entrará um vento úmido deixando molhar a pequena área do quarto. De olhos
fechados sentirei o soprar do céu nos meus cílios. A intensidade vacilante do
vento fará balançar a porta de vidro num barulho trêmulo que não ousará
disputar com os demais. Depois de um tempo perceberei que ele me dando atenção,
também queria atenção, e cada vez que me dispersasse num movimento de sono ele
me chamaria de volta enchendo o céu de branco por um segundo e clareando meu
quarto. Agradeceria com o grave grito de alegria e eu sorriria em resposta.
Quando entrar Novembro a cidade receberá satisfeita as lágrimas doces pelo seu
concreto que, com suas curvas fará durar ainda mais a queda das gotas. Quando
entrar Novembro, o segundo dia será repleto de comoção, a grama permanecerá
molhada, pois já chora sozinha depois que tanto chorou o céu sobre ela. Quando
entrar Novembro vou querer chorar.
Foto: Isabella Pina
Foto: Isabella Pina
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