terça-feira, 30 de outubro de 2012

Eu não sou um fantasma

Eu, com uma aparência viva fantasmagórica disse à ela: "eu não sou um fantasma". Ela, deslizou seus olhos pela minha boca pálida, mirou a pele de organza, tão leve, fria e branca, e me acreditou piamente. Eu não era um fantasma. Naquele momento isso era tudo o que eu era: eu era não ser um fantasma. No início eu dizia com pouco fervor, mas depois de acreditado, minha fé me permitia nascer e viver. Eu mal pude acreditar. Como lidar com tal fato, com tal desconhecido? VI-VER. VVVVVVI-VVVVER. A palavra dita lentamente parecia querer me fazer voar. Então eu perguntei à ela: - Como é que se faz isso?, -Voar?,
- Não, viver. Ela deu de ombros e respondeu - Eu não sei, a gente só fica existindo. Como é que alguém pode só ficar existindo? Logo percebi que ela nunca compreenderia meu entusiasmo, ela só havia nascido uma vez e há muitos anos, não sabia como era viver tão recente. Só com muitos anos. Só aquele tempo que ela já tinha vivido poderia fazê-la acreditar-me. Eu a agradeci tanto por aqueles seus anos vividos... a crença dela em mim me fez ser viva. Volta e meia eu me embaraçava no meio de tantas perguntas. Eu perguntava como era ter memória, ela disse-me que como era acostumada a existir uma vez atrás da outra, não tinha tempo de lembrar. Quando me senti inutilmente mais preparada para sair vivendo levantei-me, ela disse -Psiu, deixa eu te contar um segredo?, -Claro,

-Eu sou um fantasma.

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